sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A sexualidade Humanizada



SÓ ELE SOUBE OFERECER-ME UMA FLOR


Quando eu era pequena, os campos estavam cheios de flores.

Não me lembro dos dias de chuva. Só me lembro de uma grande clareira onde os gafanhotos saltavam e sei que havia uma ribeira perto.

Eu tinha 12 anos e tinha um namorado. Não me recordo do seu nome, mas sei que era meu namorado porque um dia quando brincávamos ( e éramos muitas crianças) só ele soube apanhar e oferecer-me uma flor.

No dia seguinte trazia uma roda de borracha, um pneu autêntico e minúsculo de um dos seus carros de corrida. Era tão pequeno que cabia na palma da minha mão, mas os sulcos do pneu verdadeiro fascinaram-me.

Eu não disse que o queria, não disse sequer que o achava bonito. Mesmo assim, ele deu-mo: - Toma, é para ti.

Deu-me uma flor e depois um pneu. Então eu pensei que a amizade era uma coisa muito bela. Queria dar-lhe também – o quê? – uma erva, uma pedra, o quê? Pequenos objectos que afinal ele também podia apanhar, mas que talvez oferecidos por mim lhe parecem mais belos.

Perguntei-lhe: - O que queres?

- Queria que me contasses uma história.

Eu sabia muitas histórias. Umas, de as ter ouvido; outras, de as ter imaginado. Mas receava que alguém já lhas tivesse contado. Então comecei a modificar, a transformar as histórias minhas conhecidas, na esperança de que ele não as reconhecesse.

Maria Alberta Meneres, A Chave Verde ou Os meus Irmãos

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho este conto muito interessante.
Podemos deixar uma ou mais pessoas felizes oferecendo-lhes coisas simples e que a pesso a que nós vamos dar a prenda também possa apanhar... e é o que acontece nste conto.

Paula Costa
Nº16
6ºE