SÓ ELE SOUBE OFERECER-ME UMA FLOR
Quando eu era pequena, os campos estavam cheios de flores.
Não me lembro dos dias de chuva. Só me lembro de uma grande clareira onde os gafanhotos saltavam e sei que havia uma ribeira perto.
Eu tinha 12 anos e tinha um namorado. Não me recordo do seu nome, mas sei que era meu namorado porque um dia quando brincávamos ( e éramos muitas crianças) só ele soube apanhar e oferecer-me uma flor.
No dia seguinte trazia uma roda de borracha, um pneu autêntico e minúsculo de um dos seus carros de corrida. Era tão pequeno que cabia na palma da minha mão, mas os sulcos do pneu verdadeiro fascinaram-me.
Eu não disse que o queria, não disse sequer que o achava bonito. Mesmo assim, ele deu-mo: - Toma, é para ti.
Deu-me uma flor e depois um pneu. Então eu pensei que a amizade era uma coisa muito bela. Queria dar-lhe também – o quê? – uma erva, uma pedra, o quê? Pequenos objectos que afinal ele também podia apanhar, mas que talvez oferecidos por mim lhe parecem mais belos.
Perguntei-lhe: - O que queres?
- Queria que me contasses uma história.
Eu sabia muitas histórias. Umas, de as ter ouvido; outras, de as ter imaginado. Mas receava que alguém já lhas tivesse contado. Então comecei a modificar, a transformar as histórias minhas conhecidas, na esperança de que ele não as reconhecesse.
Maria Alberta Meneres, A Chave Verde ou Os meus Irmãos
1 comentário:
Acho este conto muito interessante.
Podemos deixar uma ou mais pessoas felizes oferecendo-lhes coisas simples e que a pesso a que nós vamos dar a prenda também possa apanhar... e é o que acontece nste conto.
Paula Costa
Nº16
6ºE
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